NO AR: OS OPERÁRIOS DA PALAVRA

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Grafite: uma cultura que vai além dos desenhos - Thaís Antunes

 
Apesar de ser confundida com pichação, a grafitagem brasileira, sempre ligada ao hip hop, é considerada um dos melhores do mundo


Antes da escrita, antes da fala, lá na época da criação do fogo, a única maneira que se achou de deixar a história para as próximas gerações foi por meio da pintura nas paredes das cavernas. Hoje, mesmo com o desenvolvimento da linguagem verbal a comunicação não verbal é ainda muito forte. As pinturas em paredes na área urbana é uma delas. A arte da grafitagem é uma forma de expressar sentimentos e passar mensagens. No entanto, é sempre confundida e identificada como pichação. 


O ato de pichar se define como: pintar, rabiscar ou apenas sujar o patrimônio (sendo ele público ou privado). Essa atitude é tomada para marcação de território desde 1994, quando gangues pichavam em muros e marcavam até onde a outra gangue poderia ir. A atitude de pichar é considerada crime desde 12 de fevereiro de 1998. Segundo a Legislação Brasileira o crime acarreta detenção que pode ser de três meses a um ano, além do pagamento de multa (lei nº 9605/98, Art. 65). 
 

A pichação tem se repetido entre os jovens (e não somente nas periferias). Nas cidades, grandes ou pequenas, pode-se notar que em pontos mais frequentados como prédios, praças e muros há marcas de pichadores.
 

O grafite teve seu início na década de 60, em Nova York. A técnica consiste em desenhos feitos em paredes, muros e prédios abandonados com tinta em spray. Essa forma de comunicação visual era usada como um protesto contra a ordem social da década, dando início ao movimento, agora mundial, da arte urbana. Hoje, vista como um estilo de vida.


No Brasil, o movimento ganhou força em 1970, na cidade de São Paulo. Tanto a cultura hip hop como o grafite nasceram em Nova York na década de 70, mais especificadamente nas comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas. Hoje o grafite é ensinado nas graduações de Artes (bacharelado) na disciplina de Gravura, segundo o professor de Artes Tiago Klin. Sempre ligado ao hip hop, o grafite brasileiro é considerado um dos melhores do mundo. 
 

Eduardo Scorteganha Filho, 20 anos, mais conhecido como Du2, conheceu a arte por meio “da rua”. Enquanto andava de skate e via desenhos nas paredes da cidade, ele acabou se interessando por isso. Após um tempo o rapaz conheceu outro artista, o Felipe Neto, que tinha mais experiência com a técnica e que lhe ensinou as técnicas. Du2 diz que o grafite não é um simples desenho, mas sim uma forma de expressar sua opinião e sentimentos. “É um estilo de vida”, define.


Du2 é oficineiro de grafite no Centro da Juventude Professor Jomar Vieira Rocha e conta que para os seus alunos tenta não apenas ensinar as técnicas. “Essa arte vai além. Tento passar para os iniciantes alguns valores de vida”, explica o grafiteiro, que já chegou a ser algemado três vezes por estar se expressando em muros da cidade. A primeira vez que foi abordado, ele ainda era menor de idade e nas outras duas, foi depois da maioridade. Ele diz que nas três vezes resolveu as questões com conversa e acordo com as autoridades. “Nem todos estão prontos para aceitar esse tipo de expressão”, diz o artista.


A grafitagem é uma cultura que abrange pessoas de variadas profissões e classes sociais. Du2 diz que conhece tanto grafiteiros advogados, como pessoas que moram nas piores favelas. Apesar de sofrer preconceito perante a sociedade, esses pintores se respeitam e trocam experiências. No entanto, Du2 diz que não enfrenta tanto preconceito por ser professor. “As pessoas tem mais confiança em mim porque digo que sou professor”.


Em Cascavel o Centro da Juventude trabalha essa técnica como forma de tirar os jovens do caminho da pichação. A Oficina de Grafite é uma das mais procuradas, segundo a coordenadora do Centro, Rosangela Golveia. Ela também explica que além das habilidades artísticas, os jovens, por meio da história desse movimento, desenvolvem um senso crítico social. “O grafite contribui para o aprendizado e vai além dos desenhos. É a expressão clara da visão de mundo dos nossos jovens e adultos. Tem o objetivo de instigar a arte num contexto crítico”.



Referência Mundial

Otávio e Gustavo Pandolfo são irmãos gêmeos nascidos em 1974 em São Paulo. Formados em Desenho de Comunicação, começaram a grafitar em 1986 e com o passar dos anos se tornaram referência mundial da arte. Os grafiteiros são conhecidos mundialmente por “Os gêmeos”.



Curiosidades

Há alguns dias, em visita ao Brasil, o cantor pop do momento, Justin Bieber, deixou sua marca no Rio de Janeiro. O astro foi pego pichando muros e tecnicamente teria que arcar com as consequências



Oficinas

Para participar das oficinas oferecidas no Centro da Juventude Professor Jomar Vieira Rocha o adolescente (de 12 a 18 anos) deve comparecer no contra turno de aula na Secretaria do Centro, acompanhado de um responsável, de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h20 e das 13h às 16h20.



Gírias do grafite

Writer: escritor de grafite;

Bite: imitar o estilo de outro grafiteiro;

Crew: é um conjunto de grafiteiros que se reúnem para pintar ao mesmo tempo;

Tag: é assinatura do grafiteiro;

Toy: é o grafiteiro iniciante;

Spot: lugar onde é praticada a arte do grafite.



As modalidades do Grafite 
 

Grafite 3D: desenhos concebidos a partir de ideias visuais de profundidade, sem contornos. Exige domínio técnico do grafiteiro na combinação de cores e formas.


WildStyle: tem o formato de letras distorcidas, em forma de setas, que quase cobrem o desenho. 

Bomber: são letras gordas e que parecem vivas. Geralmente feitas com duas ou três cores.


Letras grafitadas: incorporação das técnicas do grafite à pichação. As letras grafitadas representam a assinatura do grupo.


Grafite artístico ou livre figuração. Nesse estilo vale tudo: caricaturas, personagens de história em quadrinhos, figurações realistas e também elementos abstratos.


Grafites com máscaras e spray: facilita a rápida execução e disseminação de uma marca individual ou de grupo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário