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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Crônica de Rádio - Maximiliane Veiga


“E assim, chegar e partir”...




O vai e vem é constante. É praticamente impossível ficar parada num lugar só. Pessoas se esbarram com suas bagagens enormes. Andam apressadas com o objetivo de chegar o quanto antes ao seu destino final. A concentração está na voz firme da locutora que repete duas vezes a frase. “Atenção passageiros que viajam com a empresa Pluma com sentido à São Paulo, embarque pela  plataforma 23, portão H”. Nos oito portões de embarque estão pessoas de diferentes cores, raças, religiões, gostos, formas, ideias. Todos esperam seus ônibus. Todos vão e vem.  Todos buscam por algo. Todos se amassam para pegar o melhor lugar na fila de embarque. 

Em meio a tanta gente querendo sair e outras recém chegando, várias lanchonetes com nomes chamativos para agradar os olhos e o estômago dos viajantes. Ali se serve de tudo, mas é preciso ter dinheiro pra comprar “de tudo”. Os preços são exorbitantes, uma caixa de bombom que no mercado custaria 5,99, ali custa 8,99. mas na pressa, na vontade ou na fome, é normal ver pessoas juntando as moedinhas para satisfazer o desejo.
Na rodoviária municipal de cascavel se vê muito além do que o imaginado para uma estação. Além dos passageiros que passam por ali apenas para embarcarem em seus respectivos ônibus e sair da cidade, ou chegar a ela depois de uma cansativa viagem – viagens de ônibus sempre são cansativas – se encontram também os índios, os sem teto, os viciados e os travestis.

Os nativos não tem um local específico para morar e encontraram na rodoviária um abrigo. Com poucas roupas e muitos balaios coloridos, os índios “urbanos” que não andam pelados e nem usam penachos na cabeça, buscam a sobrevivência na cidade vendendo seus artesanatos. As crianças correm descalças e se sentem em casa. Mantêm o costume herdado pelos pais de pedir as coisas para quem passa. “Dá uma moedinha, dá uma maria-mole” a maioria das pessoas, com pena, oferece dinheiro as crianças ou compram lanches para elas. Os pais, em sua maioria ficam do lado de fora, passam frio e fome, mas ninguém os tira dali. 

Junto deles vivem os sem teto e os viciados, que compartilham praticamente do mesmo estilo de vida. largados a deus dará. E para fechar o grupo os travestis que se reúnem ali para tentar programas com novos visitantes. A rodoviária também serve como local de encontro privado entre homossexuais. Há quem diga que o segundo andar treme com tanto amor lá em cima. 

Nas frases escritas nas portas do banheiro, o apelo de quem busca por uma aventura. Tem de tudo. Palavras baixas, telefones, e-mails, ameaças e declarações de amor. Pode-se dizer que o banheiro da rodoviária serve de cupido para alguns corações solitários.
Não se pode negar que na rodoviária de Cascavel tem muitas pessoas estranhas. Diferentes. Gente que te encara mesmo e que dá medo. O melhor é comprar a passagem e sentar perto de mais pessoas. Ficar sozinho realmente não rola.

Mas na rodoviária o que rola mesmo é barraco. Gente que perde o ônibus e vai correndo atrás dele. “Motorista filho da mãe, por que não me esperou mais 5 minutos”. Essa frase é uma das mais simples. Gente pedindo dinheiro para inteirar a passagem por que veio do mato grosso e não tem dinheiro pra voltar. “Mê vê 5 reais, to aqui e não consigo voltar pra casa”. A maioria das pessoas desconfia e não dá. O último que vi pedir fedia cachaça e andava torto.

Os taxistas fazem fila do lado de fora, todos esperando um passageiro disposto a pagar uma “corrida” que normalmente quebra com o bolso. Do lado de fora também tem cigana, aquela que vê o futuro na palma da sua mão. Mas tem que ser uma mão generosa, mão de pão duro não serve. Elas te cercam, chamam, gritam e até xingam se não lhes dar atenção, mas praga de cigana não pega, fiquem tranquilos.

Em meio a tudo isso, a todos esses acontecimentos, a correria não para. Não dá tempo de olhar para terceiros, não dá para desviar do foco. É ir e vir, rápido, correndo. É não se atrasar, é de forma alguma – e Deus o livre! – perder o ônibus. São pessoas que se veem uma única vez na vida para nunca mais se verem. É a realidade da música de Maria Rita. “Todos os dias é um vai e vem”... 


Texto de Maximiliane Veiga

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