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quarta-feira, 12 de março de 2014

Paixão pelo boxe e pela dedicação ao próximo - Marcelo Machado

Rubens San, 73, ministra aulas gratuitas há cerca de 50 alunos em uma academia do município

As paredes da academia de boxe do Centro Esportivo Ciro Nardi são revestidas por inúmeras conquistas e muita dedicação ao esporte. São 52 anos pisando em ringues. Hoje,os resultados são esses: uma invejável saúde e disposição na casa dos 73 rounds de vida. Ainda que o referido esporte ofereça socos, cruzadas, nocautes e até mesmo uma cotovelada que lhe tirou parte da orelha, estes não conseguem derrubar o humor, a simpatia e a vontade de ajudar, sejam aqueles que buscam a ressocialização ou mesmo aqueles que querem apenas manter o físico.

Rubens San Perruchon, hoje aposentado como funcionário estadual e militar, conta que seu maior objetivo é salvar as pessoas, tirá-las da vida tortuosa: “Já me chamaram diversas vezes para dar aulas em academias particulares, mas não me interessa. Eu gosto mesmo é de ajudar”.

Os troféus, medalhas e recortes de jornais e até mesmo um cinturão de ouro deixam evidente uma carreira bastante vitoriosa. Porém, com momentos censuráveis, como da vez a qual agrediu um funcionário de supermercado, mas isso veremos adiante. Por ora, deixem-me apresentá-lo.

San nasceu em Curitiba em 1970. Quando menino, frequentava cinemas e escolas renomadas, assim como outros garotos da classe média.“Eu gostava muito de ver os filmes que mostravam luta de boxe. Se um circo ficasse um mês no meu bairro, eu ficavatodo esse tempo lá, treinando no circo”. Foi assim que, aos dez anos, como brincadeira de criança, mas com gosto de profissional, começou no boxe. Aos treze, treinava no time do Botafogo do bairro Mercês. Aos 21 anos passou a profissional, foi quando ganhou o primeiro título, na categoria galo, em Campo Largo. “Fui campeão paranaense, me sagrei vitorioso por nocaute, no quarto round. Dali em diante fui tomando gosto e levando a vida por meio do esporte”. Tanto que até os 33 anos era absoluto no boxe estadual, chegando a faturar um brasileiro. “Também fui o primeiro pugilista paranaense a trazer uma medalha internacional para o Brasil”, relata com felicidade.

O boxeador fez tudo isso numa época difícil, na qual o esporte era visto com certa desconfiança. “Hoje, o boxe é muito mais técnico. Não se tem mais a ideia de algo violento. Se bate, o juiz para a luta e abre contagem”.
Aos 45 anos, San concluiu o curso de Educação Física. Paralelamente, exercia a função de detetive. Contratado por empresários, investigava casos de roubos e estelionatos. Depois passava as provas à polícia que prendia os envolvidos, recordando de forma empolgada e contente: “Ajudei a elucidar até mesmo uma quadrilha de roubos a carros fortes”.

Mas e o caso do funcionário de supermercado? Com indignação, San relata: “Era um machão, peitudo, que só porque tinha um metro e noventa achava que podia surrar qualquer um”. Pausadamente, seo Rubens, como também é conhecido, conta que surpreendeu o tal rapaz tomando refrigerante das gôndolas do mercado. Chamou-lhe a atenção. Contudo, como resposta recebeu um xingamento pesado. “E aí quando você treina boxe, a vontade de responder à falta de respeito vem à tona e acabei entrando no embalo da minha mente: fui provocado e revidei. No final das contas, amassei-lhe parte do rosto e eu respondi um processo”, confessa.

De alegrias e lições, a vida lhe abriu um novo caminho. A disposição e vontade de ajudar, característica marcante em San, agora quer repassar aos mais jovens tudo o que aprendeu. Há 27 anos ministra aulas e desde 2007, na academia de boxe do Ciro Nardi, é professor de cerca de 50 alunos, os quais só precisam de autorização do colégio e dos responsáveis. Não há custo. É tudo gratuito. Até mesmo os materiais, como as luvas e calções, oriundos dos longínquos anos das batalhas de Perruchon.

Hoje, contente e realizado fala de boca cheia: “Tenho 73 anos e me sinto muito bem. Não tenho vício nenhum”. San, ainda, aconselha: “Mesmo que você não pratique nenhum esporte, faça alguma coisa. Ande, caminhe, pule, salte. É a melhor coisa da vida”.

Títulos conquistados

  •     Passou pelos ringues dos Estados Unidos, França, Uruguai, Argentina e Cuba. 
  •    Com 21 anos faturou seu primeiro título de campeão paranaense. 
  •    Por 12 anos, foi seguidamente campeão estadual.Nesse período faturou um Brasileiro e chegou a ser o terceiro no ranking da União Internacional de Boxe.


Foto de Ricardo Pohl



















Texto de Marcelo Machado

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