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quarta-feira, 12 de março de 2014

Pra quem tem fé, a vida nunca tem fim - Maximiliane Veiga

GUERREIRA NAYARA: Combateu um linfoma, enfrentou a morte, e luta, todos os dias, contra um câncer dito como incurável.


Segunda-feira, 6h30 da manhã. O sol está nascendo e Nayara já está de pé, pronta para a batalha. Toma um banho, como de costume. O café da manhã está na mesa, mas nem sempre ela consegue tomá-lo. A ansiedade não deixa. A grande guerreira parte para a luta, para mais um dia de combate. Chega ao campo de guerra e se prepara. Enche-se de força e fé, coloca sua armadura de coragem e espera. Às 14 horas começa a ação. Nayara deita na maca e inicia a sua quimioterapia...

Era janeiro de 2013. Nayara Thais da Rosa, no auge de seus 22 anos, levava uma vida corrida. Trabalhava, estudava Enfermagem e fazia estágio. Nos finais de semana saía, se divertia com os amigos e aproveitava a juventude. Sempre foi muito vaidosa, preocupava-se com a aparência, com o cabelo que deveria estar impecável e com o corpo que tratava na academia. Mas um furacão, dos mais agressivos, passou em sua vida. Sentiu um nódulo do lado do pescoço e procurou um médico. A partir daí a história da vida de Nayara estava prestes a mudar. A garota de vida agitada se tornaria mais uma guerreira. Foi no dia 4 de fevereiro de 2013 que a jovem recebeu a notícia de que estava com câncer e, assim, Nayara foi intimada para a guerra.

“Eu levei o resultado para o médico, um especialista em cabeça e pescoço, e ele me pediu vários exames de sangue e me disse que eu teria que tirar o nódulo para que pudessem fazer uma biópsia, porém o médico foi bem indelicado. Quando levei o resultado dos meus exames ele me disse que estavam bons, mas que eu estava com câncer”. Nayara procurou outro especialista que confirmou a doença. “No mesmo dia eu consultei com outro médico e ele confirmou que realmente eu estava com linfoma”, lamenta.

O susto e o medo foram inevitáveis. A jovem que não tinha casos de câncer na família não deixou para depois e logo procurou ajuda. “Acredito muito em deus e acredito que ele faz as coisas certinhas. Eu não fiquei esperando para ver se ia sumir. Eu descobri num dia e no outro dia eu já estava no hospital consultando. Assim, o meu (câncer) não se espalhou, não chegou à medula. Estava na fase inicial”, explica.

Nayara iniciou seus tratamentos em fevereiro, oito sessões de quimioterapia era o recomendado, porém na sexta sessão a jovem pegou uma bactéria, o que a fez parar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “O médico não me deu chance nenhuma. Chegou para os meus pais e falou que eu estava muito mal, que não sabia se eu ia resistir e só faltou falar para eles entrarem e se despedirem de mim”, conta a jovem, com um olhar acanhado.

A guerreira venceu a batalha contra a infecção e deixou os médicos sem explicação. Emocionada, ela ressalta: “Nós somos muito religiosos, acreditamos muito em Deus. Então, como meus pais não podiam ficar comigo na UTI, eles iam à igreja e lá fizeram uma oração específica para mim. Meu caso reverteu, nem o médico acreditou. O tratamento que levaria uns três meses, se eu saísse viva, durou oito dias. Aí eu saí. Fiquei mais quatro dias no quarto e vim para casa”.

Logo que saiu da UTI, Nayara deixou claro que não voltaria a fazer quimio. Foi à Curitiba para fazer outro exame, o pet scan, onde constatou que ainda existiam nódulos ativos em seu corpo. Foi quando o mundo desabou, pela segunda vez. “Eu curei o linfoma, mas eu tive uma mutação genética que o médico não sabe explicar o que é. Agora eu trato um melanoma, que é um câncer de pele que se infiltra no meu corpo, que atinge aos poucos meus órgãos. No meu caso, já tinha atingido os linfonodos. Por isso, o médico disse que não tinha mais como curar, mas só controlar.”

Segundo os médicos, a doença de Nayara “não tem cura”, mas quando ouve essa frase, dona Elis Rosa, mãe da jovem, tem a resposta na ponta da língua: “Não tem cura para a medicina da terra, mas para a medicina de Deus tem. Ele é o médico dos médicos, então a gente entrega nas mãos Dele e vive um dia de cada vez. Com uma doença dessas você precisa viver um dia de cada vez”, explica, sorridente.

Após vencer o primeiro câncer e resistir à infecção que quase a matou, Nayara estava preparada para lutar contra o terceiro inimigo. “Com o melanoma eu sentia muita dor, mas me neguei a tomar morfina. A doença estava se espalhando muito rápido e o medicamento que eu tomava demorou uns quatro meses para chegar. O governo negava, na verdade ele nega”, enfatiza a jovem, indignada.

O tratamento do melanoma era feito pelas veias de Nayara, porém, em vez de ajudar a diminuir, o tratamento acelerou e fez com que o câncer se espalhasse ainda mais rápido. “Eu comecei a tomar a codeína, que é a “prima” da morfina, e esse medicamento me ajudou um pouco, mas eu ainda tinha dores e muita febre. O médico falou que se esse medicamento que o governo se nega a pagar não viesse, ele não saberia o que poderia acontecer comigo. Eu podia não resistir à espera e ainda tinha a chance do remédio vir e não fazer efeito, porque ele não é 100%”.

Segundo o médico de Nayara, o medicamento tinha 80% de chance de dar certo e 20% de dar errado, e ela poderia estar entre os 20%. “Foi aí que eu entrei em desespero, pois o medicamento podia não vir, podia não dar certo e eu comecei a pensar que ia morrer. Mas graças a Deus o remédio veio e funcionou”.

A luta da família agora é fazer com que o medicamento continue vindo regularmente. Para isso, é preciso que uma advogada entre com um processo contra o governo todo mês. “Se a advogada não entrar com o processo o medicamento não vem. O governo se nega a pagar. Fizemos um acordo, pagamos uma quantia e ela entra com processo. O tratamento de Nayara tem um custo de R$32 mil por mês, em torno de uns R$7 mil por semana, e nós não temos condição de pagar isso. Essa é a única forma de controlar a doença da minha filha. Dependemos totalmente desse medicamento”, ressalta Elis.

Apesar de tantas batalhas, a jovem guerreira não se deixa abater. “Antes eu era uma pessoa muito ansiosa, agora eu tento não fazer planos, eu não me prendo a isso, porque eu estava com a minha vida tranquila, vivia como uma jovem normal e de repente tudo virou de ponta cabeça. E aí você fica se perguntando: ‘Por que eu?’. Mas depois percebe que a pergunta é: ‘Por que não eu?’. Isso pode ocorrer com qualquer um. Essa doença não escolhe rico, pobre, jovem, ou velho, ela acontece”, ressalta Nayara.

“Eu aprendi, cresci e amadureci muito. Aprendi a dar mais valor à vida. Tento tirar sempre lições boas de tudo que me passam e comecei a ver as pessoas com outros olhos. Antes minhas prioridades eram estar bonita, com o cabelo bonito e agora eu vejo que existem coisas mais importantes do que isso, como dar valor às pessoas que realmente me amam. É assim que eu estou vendo a vida”.

Nos olhos da mãe, o orgulho e a admiração resplandecem:“Deus dá grandes batalhas para os grandes guerreiros. Eu a acho uma guerreira, uma lutadora, um exemplo. Uma grande vencedora, da qual me orgulho muito”.

Dona Elis e Nayara/ foto de Maicon Santos
















Texto de Maximiliane Veiga

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. PARABÉNS NAYARA, admiro muito sua força e coragem, eu e minha família estamos em oração por ti :)

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