GUERREIRA
NAYARA: Combateu um linfoma, enfrentou a morte, e luta, todos os
dias, contra um câncer dito como incurável.
Segunda-feira, 6h30 da manhã. O sol
está nascendo e Nayara já está de pé, pronta para a batalha. Toma
um banho, como de costume. O café da manhã está na mesa, mas nem
sempre ela consegue tomá-lo. A ansiedade não deixa. A grande
guerreira parte para a luta, para mais um dia de combate. Chega ao
campo de guerra e se prepara. Enche-se de força e fé, coloca sua
armadura de coragem e espera. Às 14 horas começa a ação. Nayara
deita na maca e inicia a sua quimioterapia...
Era janeiro de 2013. Nayara Thais da
Rosa, no auge de seus 22 anos, levava uma vida corrida. Trabalhava,
estudava Enfermagem e fazia estágio. Nos finais de semana saía, se
divertia com os amigos e aproveitava a juventude. Sempre foi muito
vaidosa, preocupava-se com a aparência, com o cabelo que deveria
estar impecável e com o corpo que tratava na academia. Mas um
furacão, dos mais agressivos, passou em sua vida. Sentiu um nódulo
do lado do pescoço e procurou um médico. A partir daí a história
da vida de Nayara estava prestes a mudar. A garota de vida agitada se
tornaria mais uma guerreira. Foi no dia 4 de fevereiro de 2013 que a
jovem recebeu a notícia de que estava com câncer e, assim, Nayara
foi intimada para a guerra.
“Eu levei o resultado para o médico,
um especialista em cabeça e pescoço, e ele me pediu vários exames
de sangue e me disse que eu teria que tirar o nódulo para que
pudessem fazer uma biópsia, porém o médico foi bem indelicado.
Quando levei o resultado dos meus exames ele me disse que estavam
bons, mas que eu estava com câncer”. Nayara procurou outro
especialista que confirmou a doença. “No mesmo dia eu consultei
com outro médico e ele confirmou que realmente eu estava com
linfoma”, lamenta.
O susto e o medo foram inevitáveis. A
jovem que não tinha casos de câncer na família não deixou para
depois e logo procurou ajuda. “Acredito muito em deus e acredito
que ele faz as coisas certinhas. Eu não fiquei esperando para ver se
ia sumir. Eu descobri num dia e no outro dia eu já estava no
hospital consultando. Assim, o meu (câncer) não se espalhou, não
chegou à medula. Estava na fase inicial”, explica.
Nayara iniciou seus tratamentos em
fevereiro, oito sessões de quimioterapia era o recomendado, porém
na sexta sessão a jovem pegou uma bactéria, o que a fez parar na
UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “O médico não me deu chance
nenhuma. Chegou para os meus pais e falou que eu estava muito mal,
que não sabia se eu ia resistir e só faltou falar para eles
entrarem e se despedirem de mim”, conta a jovem, com um olhar
acanhado.
A guerreira venceu a batalha contra a
infecção e deixou os médicos sem explicação. Emocionada, ela
ressalta: “Nós somos muito religiosos, acreditamos muito em Deus.
Então, como meus pais não podiam ficar comigo na UTI, eles iam à
igreja e lá fizeram uma oração específica para mim. Meu caso
reverteu, nem o médico acreditou. O tratamento que levaria uns três
meses, se eu saísse viva, durou oito dias. Aí eu saí. Fiquei mais
quatro dias no quarto e vim para casa”.
Logo que saiu da UTI, Nayara deixou
claro que não voltaria a fazer quimio. Foi à Curitiba para fazer
outro exame, o pet scan, onde constatou que ainda existiam nódulos
ativos em seu corpo. Foi quando o mundo desabou, pela segunda
vez. “Eu curei o linfoma, mas eu tive uma mutação genética que o
médico não sabe explicar o que é. Agora eu trato um melanoma, que
é um câncer de pele que se infiltra no meu corpo, que atinge aos
poucos meus órgãos. No meu caso, já tinha atingido os linfonodos.
Por isso, o médico disse que não tinha mais como curar, mas só
controlar.”
Segundo os médicos, a doença de
Nayara “não tem cura”, mas quando ouve essa frase, dona Elis
Rosa, mãe da jovem, tem a resposta na ponta da língua: “Não tem
cura para a medicina da terra, mas para a medicina de Deus tem. Ele é
o médico dos médicos, então a gente entrega nas mãos Dele e vive
um dia de cada vez. Com uma doença dessas você precisa viver um dia
de cada vez”, explica, sorridente.
Após vencer o primeiro câncer e
resistir à infecção que quase a matou, Nayara estava preparada
para lutar contra o terceiro inimigo. “Com o melanoma eu sentia
muita dor, mas me neguei a tomar morfina. A doença estava se
espalhando muito rápido e o medicamento que eu tomava demorou uns
quatro meses para chegar. O governo negava, na verdade ele nega”,
enfatiza a jovem, indignada.
O tratamento do melanoma era feito
pelas veias de Nayara, porém, em vez de ajudar a diminuir, o
tratamento acelerou e fez com que o câncer se espalhasse ainda mais
rápido. “Eu comecei a tomar a codeína, que é a “prima” da
morfina, e esse medicamento me ajudou um pouco, mas eu ainda tinha
dores e muita febre. O médico falou que se esse medicamento que o
governo se nega a pagar não viesse, ele não saberia o que poderia
acontecer comigo. Eu podia não resistir à espera e ainda tinha a
chance do remédio vir e não fazer efeito, porque ele não é 100%”.
Segundo o médico de Nayara, o
medicamento tinha 80% de chance de dar certo e 20% de dar errado, e
ela poderia estar entre os 20%. “Foi aí que eu entrei em
desespero, pois o medicamento podia não vir, podia não dar certo e
eu comecei a pensar que ia morrer. Mas graças a Deus o remédio veio
e funcionou”.
A luta da família agora é fazer com
que o medicamento continue vindo regularmente. Para isso, é preciso
que uma advogada entre com um processo contra o governo todo mês.
“Se a advogada não entrar com o processo o medicamento não vem. O governo se nega a pagar. Fizemos um
acordo, pagamos uma quantia e ela entra com processo. O tratamento de
Nayara tem um custo de R$32 mil por mês, em torno de uns R$7 mil por
semana, e nós não temos condição de pagar isso. Essa é a única
forma de controlar a doença da minha filha. Dependemos totalmente
desse medicamento”, ressalta Elis.
Apesar de tantas batalhas, a jovem
guerreira não se deixa abater. “Antes eu era uma pessoa muito
ansiosa, agora eu tento não fazer planos, eu não me prendo a isso,
porque eu estava com a minha vida tranquila, vivia como uma jovem
normal e de repente tudo virou de ponta cabeça. E aí você fica se
perguntando: ‘Por que eu?’. Mas depois percebe que a pergunta é:
‘Por que não eu?’. Isso pode ocorrer com qualquer um. Essa
doença não escolhe rico, pobre, jovem, ou velho, ela acontece”,
ressalta Nayara.
“Eu aprendi, cresci e amadureci
muito. Aprendi a dar mais valor à vida. Tento tirar sempre lições
boas de tudo que me passam e comecei a ver as pessoas com outros
olhos. Antes minhas prioridades eram estar bonita, com o cabelo bonito
e agora eu vejo que existem coisas mais importantes do que isso, como
dar valor às pessoas que realmente me amam. É assim que eu estou
vendo a vida”.
Nos olhos da mãe, o orgulho e a
admiração resplandecem:“Deus dá grandes batalhas para os grandes
guerreiros. Eu a acho uma guerreira, uma lutadora, um exemplo. Uma
grande vencedora, da qual me orgulho muito”.
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Dona Elis e Nayara/ foto de Maicon Santos |
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Texto de Maximiliane Veiga |
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPARABÉNS NAYARA, admiro muito sua força e coragem, eu e minha família estamos em oração por ti :)
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