O cheiro é de confusão. A noite paulista, sempre agitada
pelo vai e vem de automóveis e seu trânsito infernal hoje dá lugar a outro tipo
de agitação. De pernas, de braços, de suor, de gritos que ecoavam pela avenida.
Vozes que buscavam ser ouvidas. Pessoas que usavam as faixas, os cartazes e a
garganta como armas, a fim de reivindicar seus direitos como cidadãos. Mas
defronte a esses meros manifestantes se encontravam de prontidão, um ao lado do
outro, criando um cordão de isolamento, os policiais militares. Aqueles que têm
o dever de proteger a população, dessa vez estavam agindo contra ela, alegando
manter a ordem pública. Os homens fardados, munidos de cassetetes, bombas de
gás lacrimogêneo e balas de borracha esperavam em fila algum tipo de ordem.
As palavras “Sem violência” eram espalhadas aos quatro
ventos pelos manifestantes, a força com que eram ditas demonstrava o tamanho da
indignação dos protestantes. Mas somente essas palavras não foram suficientes.
Uma professora também soltou a voz e começou a dizer aquilo tudo que sentia, E
notava-se, pela voz firme e doída, o tamanho da indignação que trazia no peito.
A polícia posta com suas armas, o povo de frente com sua voz. Ao estilo guerra
medieval. Como se todos estivessem prontos para atacar.
De repente, a polícia toma a iniciativa, e como se fosse
uma coreografia, todos fazem o mesmo gesto. Levantam o cassetete e parte para
cima dos manifestantes. A euforia é geral, pessoas correndo, gritando palavras
de ordem e sendo atingidas pelo gás que saia das bombas. Ao ser abordada a
professora que gritava por seus direitos pediu para que o policial tirasse o
capacete, em vão. Foi levada, presa com as mãos para o alto, sem saber o motivo
e sem saber por quem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário