Agricultura Familiar melhora qualidade da merenda nas escolas públicas
A merenda no Colégio
Estadual José de Alencar, localizado em Braganey, uma pequena cidade no oeste
do Paraná tem sabor especial. O segredo da receita está além dos ingredientes
de qualidade fornecidos pela agricultura familiar do município, a horta da
instituição e pelo governo do estado. O sucesso da alimentação escolar está no
amor, dedicação e os cuidados especiais das cozinheiras que preparam todos os
dias um cardápio variado, dando um toque caseiro até mesmo aos alimentos
industrializados.
Segunda-feira, 15 horas, e o
aroma da escola é contagiante. Os adolescentes começam a formar fila, a fim de
degustar o saboroso macarrão caseiro com frango, preparado pelas mãos de dona
Maria e dona Rosangela. Minha presença com a câmera fotográfica não intimida os
alunos, ao contrário fazem até pose com o prato na mão, afinal, sentem orgulho
da qualidade do lanche que consomem.
Apesar da visita não ter
sido agendada, a dispensa e a cozinha da escola impressionam pela organização,
limpeza e a qualidade dos alimentos estocados. Nas prateleiras e nos freezers
observa-se em sua maioria, alimentos de “marcas famosas” não presentes em
muitos lares brasileiros, e uma variedade de produtos naturais vindos da horta
e da agricultura familiar do município.
No outro dia, pela manhã a
cena se repete. Faltando um pouco mais de dez minutos para o intervalo, os
alunos que estão na quadra de educação física, vêm correndo para garantir o
melhor lugar na fila da merenda. No dia, cada criança recebeu um pão caseiro
com margarina e uma caixinha de bebida láctea sabor morango.
As cozinheiras não
descansam. Após servir o lanche, o trabalho continua com a organização e a
limpeza do ambiente e a preparação do almoço. Neste, entre professores e alunos
participantes de projetos e aulas de reforço, o colégio atende diariamente,
cerca de 50 pessoas. No dia, o cardápio contou com arroz, feijão, carne suína,
brócolis e de sobremesa laranja.
Importância
da merenda
A alimentação é uma
necessidade básica do ser humano, e considerando infância e adolescência,
alimentos de qualidade possibilitam o crescimento físico e subjetivo dos
alunos. Nesse aspecto, a merenda escolar é fundamental, já que influencia bastante
no desempenho escolar. Por isso, a merenda é um direito de meninos e meninas
matriculados em escolas oficiais de Educação Infantil e Ensino Fundamental,
assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sendo o Estado,
responsável pela mesma.
Por se tratar de um
município agrícola, mas com poucas escolas rurais, a importância da alimentação
de qualidade na escola se torna ainda maior. De acordo com a professora Dilma
Portes de Oliveira (que leciona já há 31 anos), “alguns alunos do Colégio saem
de casa muito cedo e não têm tempo de tomar café da manhã, assim ficar muito
tempo sem se alimentar pode prejudicar o desempenho deles”, afirma.
Agricultura
Familiar
Com a publicação da Lei
11.947/2009 e a obrigatoriedade de que estados e municípios deveriam passar a
utilizar no mínimo 30% dos recursos repassados pelo Governo Federal, com a
aquisição de gêneros da agricultura familiar, a alimentação escolar em todo o
país, passou a contar com um novo cenário.
A aquisição dos gêneros ocorre
através de Chamamento Público, e o Paraná é pioneiro na construção de um
sistema eletrônico para cadastramento de propostas das cooperativas e
associações.
Para a cozinheira Rosangela
Inácio que trabalha na rede pública de Ensino há 12 anos, hoje a qualidade da
merenda é muito boa: “Antes tínhamos apenas o que o governo mandava e a
hortinha da escola, agora a variedade de alimentos é maior porque também
recebemos alimentos da Agricultura Familiar como repolho, mandioca, brócolis,
frutas, hortaliças, pão e macarrão caseiro”, declara.
Mudança
com o tempo
Infelizmente, nem sempre foi
assim. Até pouco tempo atrás, a preparação da merenda era tarefa cumulativa e
de responsabilidade do professor. “Durante todos esses anos como professora
observei que a merenda melhorou muito, antes quando eu era aluna, ela nem
existia. Nós levávamos alimentos de casa, e na escola a professora preparava a
merenda. Com o passar dos anos ela evoluiu, e hoje é melhor até do que a
alimentação de muitos lares brasileiros”, afirma Dilma.
A trabalhadora rural
aposentada Adele Casarotto, conta que trabalhou como merendeira entre 1977 e
1978 em um colégio rural do município de Corbélia, mas nunca recebeu nem um
“obrigado”. “Minha filha era professora de quatro classes. Por ela ter tido poliomielite
quando era criança possuía dificuldades para caminhar, e enquanto ela aplicava
atividades para uma série, as outras faziam bagunça. Por isso, para não
diminuir ainda mais o tempo dela com cada série eu fazia a merenda.
Enlatados
Apesar
da qualidade na alimentação da escola hoje, alguns aspectos ainda deixam a
desejar. A professora Dilma ressalta que a adesão de produtos da agricultura
familiar deixou a comida do Colégio mais saudável e saborosa, porém, acredita que
esta poderia ser ainda melhor se fosse feita apenas com o que vem diretamente
do produtor. “Os produtos vindos diretamente da roça não causam nenhum
malefício à saúde das crianças, já os enlatados e sucos de caixinha são
prejudiciais, o governo deveria aumentar o percentual de produtos nativos na
merenda”, afirma.
Rosangela compartilha esta
opinião. Para a cozinheira, os produtos naturais são melhores que os enlatados.
“Está melhorando, hoje já recebemos um pouco de carne fresca, mas a maior parte
do feijão, carne de frango, bovina e suína, ainda são enlatados”, conta.
A merenda e o almoço aos
alunos e aos professores que participam dos projetos de ensino integral e aulas
de reforço são preparados com muito carinho. As cozinheiras são agentes
fundamentais em todo o processo da alimentação escolar. O sabor e a qualidade
do alimento dependem não só da matéria-prima, como também da forma em que é
preparado, por isso até o feijão que vem cozido e embalado a vácuo e as carnes
enlatadas recebem a atenção devida das merendeiras com o uso dos temperos
caseiros da horta.
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