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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Cosplays: Dando vida ao “faz de conta” - Maximiliane Veiga

Eles não se contentam em ser somente fãs, é preciso tomar forma e se tornar os ídolos no mundo real





Projeto Outra Pauta - Jornal Gazeta do Paraná
 



Posters, camisetas, bandanas, CDs, DVDs e todas essas coisas de fãs não são suficientes para eles. É preciso ter na pele, vestir, sentir, se tornar o personagem que admiram. Fazer cosplay não é fácil, mas quando se trata de amor pelos ídolos ou animes vale tudo para se sentir dentro do mundo deles. Mas se você achou essa palavra um pouco estranha, lá vai a definição: Cosplays são pessoas que se fantasiam como seus ídolos preferidos, sejam eles existentes ou não. A grande maioria dos cosplays são de animes japoneses, mas também há quem faça com personagens de séries, jogos, filmes e quadrinhos.



Ela já perdeu as contas de quantas vezes pintou o cabelo, pois já faz isso desde os cinco anos de idade. Rosto de boneca, voz delicada, roupas diferentes, estilo próprio. A cascavelense Marília Esposte, é mais uma jovem vidrada em cosplay e desde os13 anos se veste como animes japoneses. A primeira personagem de Marília foi Sekai, do desenho School Days, em um evento que aconteceu em comemoração aos 100 anos da imigração japonesa, no shopping JL.

“Sempre gostei muito de animes, e sempre quis parecer um, então quando vi a oportunidade de fazer um cosplay, não pensei duas vezes. É como se você fugisse da realidade e entrasse em um mundo de faz de conta”, ressalta a jovem fã do desenho Full Metal Alchemist. Marília também possui uma conta no YouTube onde posta vídeos com comentários e dicas sobre os animes que assiste. “Certo dia assisti um anime muito polêmico (Black Rock Shooter) e decidi postar uma resenha sobre ele, e isso foi tão divertido que no ano seguinte comecei a investir nos vídeos e o canal começou a dar certo”, conta Marília, ou “Maahgia”, sobre o canal que já tem 161 inscritos e 18.373 visualizações.



Mas para ficar parecida com os desenhos também é preciso desembolsar. Marília conta que para não gastar muito buscou outra opção. “Quando comecei a investir nos cosplays entrei num curso de corte e costura para poder confeccionar minhas próprias roupas e assim economizar com costureira. Também nunca investi muito em perucas, prefiro usar o meu próprio cabelo e os acessórios sempre dou um jeitinho de fazer”, conta a jovem que gasta em média, 60 reais por cosplay. “Mas já cheguei a gastar uns 300,00”, confessa.



Laila Muller, de 21 anos, mora em Cascavel e assim como Marília, tem o cabelo colorido. Ela é fã do desenho Chobits e também já gastou por volta de 300 reais com roupas de animes. “Antes de fazer cosplay eu nunca tinha visto ninguém fazendo, a não ser pela internet”, conta Laila que já se vestiu de Konan, do Anime Naruto, Strength, do Black Rock Shooter, Juvia, do desenho Fairy Tail, e Koneko Toujou, do Anime High School DxD.



Quem curte anime, também curte encontros de animes e para quem pensa que convenções só são realizadas em grandes cidades, se engana. Em Cascavel, o Harucon acontece anualmente e reúne os cosplays de toda a região. Neste evento, as pessoas aproveitam para “encarnar” seus personagens favoritos, debater sobre séries e animes, além de trocar ideias sobre jogos. “O Harucon tem como objetivo difundir a cultura Oriental e reúne uma série de atrações, como Batalha Campal, sala de K-Pop, entre outros”, conta Laila.



“Participo sempre que possível, já participei do Harucon, com o grupo Genshiken, por quatro anos, três como espectadora e um ano como organizadora. Já participei também do Anigion em Cascavel, do AnimeRio, no Rio de Janeiro e do Anime Citty Tattoo, também no Rio”, explica Marília, que conheceu o namorado em um desses encontros. “Eventos de anime são super legais, você sempre conhece gente nova, encontra aquele personagem que mudou sua infância. É divertido sair do mundo real por um dia, vale muito a pena conhecer.



No Harucon os “animes reais” também disputam quem tem a melhor fantasia ou a mais parecida com os personagens e concorrem a prêmios. “Quando fiz meus primeiros cosplays meu objetivo era apenas a diversão, aí começaram a surgir os concursos, então usava um cosplay nos eventos para me divertir, e um segundo para a competição. Eu já ganhei vários prêmios e meu último concurso me rendeu um Nintendo Wii”, Marília conta orgulhosa.



A paixão dos seres “reais” pelos animes vai além da pele, está no coração. “Acho que o mundo já é muito cheio de coisas ruins, e é bom de vez em quando escapar da realidade. Os animes me ajudam nisso, a sonhar com um mundo encantado”, ressalta Marília. “Os animes nos ensinam lições de vida”, completa Laila.






BOX: Apesar de parecer que foi criado no Japão, o Cosplay teve início nos Estados Unidos. Em 1939, na primeira edição do World Science Fiction Convention, um concurso de ficção científica, Forrest J. Ackerman, e sua amiga Myrtle R. Douglas compareceram ao evento fantasiados. Ele usava um traje de piloto espacial, o qual chamou de "futuricostume", e Myrtle estava caracterizada com um vestido inspirado no filme "Things to Come". Esse foi o pontapé inicial do Costuming – futuro Cosplay - na América. Em 1984, Nobuyuki Takahashi visitou a Worldcon e ficou tão impressionado que publicou sobre isso em revistas japonesas de ficção científica. Criou um novo termo para definir o que havia presenciado: Cosplay. Alguns anos depois já foram criadas convenções japonesas, com dezenas de fãs fantasiados de personagens de animes e mangás, o que virou uma febre no Japão e fez surgir diversas lojas especializadas no hobby, criando a indústria Cosplay.

A diferença: No Japão o cosplay caracteriza-se como um personagem que já existe, mesmo que a origem não seja de anime ou mangá, já nos Estados Unidos os cosplayers criam suas próprias fantasias e competem em convenções de fãs. Eles aceitam e incentivam fantasias originais.



Texto de Maximiliane Veiga


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