Artigo de opinião
Morena, mulata, cor
de cuia, preta, marrom-bombom, chocolate. Esses são os vários nomes
que as pessoas dão em razão da cor da pele, mas não me parece
significar o que realmente sou ou ao menos, me sinto. A minha cor é
negra e tenho orgulho disso. Vivo em um país de diversificações e
diferenças, onde 97 milhões de pessoas se declaram negras e onde,
também, para muitas pessoas, ter mais melanina significa ser
inferior.
Por
que ao se inscrever a uma vaga de universidade é obrigatório
colocar a cor da pele?Porque uma mulher negra tem como principal
atividade ser doméstica? Com todo o respeito à profissão. Por que
um negro não pode chegar a um cargo importante no país? Você
conhece um general negro? Quantos juízes negros? Porque todo preto é
ladrão?Ao longo do tempo observamos que essas perguntas sempre
estiveram em discussão na sociedade, mas ninguém sabe responder ao
certo qual é o motivo real de tanto preconceito.
O preconceito racial
sempre esteve presente na sociedade. A atitude de mudar essa
realidade é que é recente. As cotas raciais nas universidades e
concursos públicos pode até ter o intuito de ajudar jovens
estudantes negros, mas para mim, é um exemplo de preconceito, pois
os negros podem alcançar seus objetivos sem a ajuda do governo, como
qualquer branco. Conheço muitas pessoas brancas, inclusive, que
mereceriam mais as cotas do que eu, por terem condições financeiras
mais complicadas ainda.
Uma coisa que me dói
e que passo todos os dias, principalmente quando vou para cidades
menores é o olhar das pessoas. Elas olham como se eu fosse algo
diferente e que não deveria estar ali e se falo que trabalho como
estagiaria e sou estudante de graduação do curso de jornalismo, ai
sim o olhar muda e perguntas do tipo como você conseguiu? É um
curso caro?.
Apesar de tudo isso,
o Brasil é a casa de muitos africanos, haitianos que se identificam
com a cultura brasileira. Na África, assim como em outros países,
estão presentes as novelas brasileiras, que refletem uma imagem
positiva do negro. No entanto, o que essas pessoas veem na mídia não
é a situação real. Ao chegarem, os africanos não recebem o apoio
sonhado e idealizado pelas telenovelas. Muitos nem sabem onde estão
exatamente e nem como conseguir um emprego. Além disso, sofrem o
preconceito de toda a sociedade, inclusive de muitos de nós negros,
que os olham e os tratam como algo perigoso. No entanto, os próprios
negros brasileiros ainda sofrem com o preconceito. Percebe-se que, a
descriminação está ligada muito mais à classe social que a pessoa
pertence, da mesma forma que os haitianos, que aqui chegam precisando
trabalhar para se sustentar.
O que nota-se,
porém, é que um imigrante branco, de qualquer outro país,
provavelmente não será encarado com o mesmo “olhar” que o
africano. Este carrega consigo todo o percurso histórico de seus
ancestrais escravizados, o que está marcado na cor de sua pele.
O certo é que
devemos aprender com as instituições sociais, como família, igreja
e escolas, que não há diferenças. Não importa a cor, a etnia, a
nacionalidade ou a religião. Vivemos todos no mesmo mundo e quando
morremos vamos para o mesmo lugar. Um negro é tão capaz quanto um
branco. Podemos encontrar pérolas negras distribuídas em todos os
contextos: na política, nas universidades como professores, nas
redes de televisão, na música, nas literaturas, nas empresas, entre
outros. Assim como Nelson Mandela deixa claro: “ninguém nasce
odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda
por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se
podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. Mais do que
isso: você pode aprender, a pelo menos, respeitar.
Cota para mim é um
desrespeito.
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