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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Divididos pela cor - Janaina Teixeira

Artigo de opinião


Morena, mulata, cor de cuia, preta, marrom-bombom, chocolate. Esses são os vários nomes que as pessoas dão em razão da cor da pele, mas não me parece significar o que realmente sou ou ao menos, me sinto. A minha cor é negra e tenho orgulho disso. Vivo em um país de diversificações e diferenças, onde 97 milhões de pessoas se declaram negras e onde, também, para muitas pessoas, ter mais melanina significa ser inferior.

Por que ao se inscrever a uma vaga de universidade é obrigatório colocar a cor da pele?Porque uma mulher negra tem como principal atividade ser doméstica? Com todo o respeito à profissão. Por que um negro não pode chegar a um cargo importante no país? Você conhece um general negro? Quantos juízes negros? Porque todo preto é ladrão?Ao longo do tempo observamos que essas perguntas sempre estiveram em discussão na sociedade, mas ninguém sabe responder ao certo qual é o motivo real de tanto preconceito.

O preconceito racial sempre esteve presente na sociedade. A atitude de mudar essa realidade é que é recente. As cotas raciais nas universidades e concursos públicos pode até ter o intuito de ajudar jovens estudantes negros, mas para mim, é um exemplo de preconceito, pois os negros podem alcançar seus objetivos sem a ajuda do governo, como qualquer branco. Conheço muitas pessoas brancas, inclusive, que mereceriam mais as cotas do que eu, por terem condições financeiras mais complicadas ainda.

Uma coisa que me dói e que passo todos os dias, principalmente quando vou para cidades menores é o olhar das pessoas. Elas olham como se eu fosse algo diferente e que não deveria estar ali e se falo que trabalho como estagiaria e sou estudante de graduação do curso de jornalismo, ai sim o olhar muda e perguntas do tipo como você conseguiu? É um curso caro?.

Apesar de tudo isso, o Brasil é a casa de muitos africanos, haitianos que se identificam com a cultura brasileira. Na África, assim como em outros países, estão presentes as novelas brasileiras, que refletem uma imagem positiva do negro. No entanto, o que essas pessoas veem na mídia não é a situação real. Ao chegarem, os africanos não recebem o apoio sonhado e idealizado pelas telenovelas. Muitos nem sabem onde estão exatamente e nem como conseguir um emprego. Além disso, sofrem o preconceito de toda a sociedade, inclusive de muitos de nós negros, que os olham e os tratam como algo perigoso. No entanto, os próprios negros brasileiros ainda sofrem com o preconceito. Percebe-se que, a descriminação está ligada muito mais à classe social que a pessoa pertence, da mesma forma que os haitianos, que aqui chegam precisando trabalhar para se sustentar.

O que nota-se, porém, é que um imigrante branco, de qualquer outro país, provavelmente não será encarado com o mesmo “olhar” que o africano. Este carrega consigo todo o percurso histórico de seus ancestrais escravizados, o que está marcado na cor de sua pele.

O certo é que devemos aprender com as instituições sociais, como família, igreja e escolas, que não há diferenças. Não importa a cor, a etnia, a nacionalidade ou a religião. Vivemos todos no mesmo mundo e quando morremos vamos para o mesmo lugar. Um negro é tão capaz quanto um branco. Podemos encontrar pérolas negras distribuídas em todos os contextos: na política, nas universidades como professores, nas redes de televisão, na música, nas literaturas, nas empresas, entre outros. Assim como Nelson Mandela deixa claro: “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. Mais do que isso: você pode aprender, a pelo menos, respeitar.

Cota para mim é um desrespeito.



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