Viajar
nem sempre é algo prazeroso, principalmente quando se trata de
ônibus metropolitanos. Desembolsar ou passar sufoco? Eis a questão
Projeto Outra Pauta - Jornal Gazeta do Paraná
“Se
o busão não tombar olê olê olá, eu chego lá”... Acredite se
quiser, mas eu já ouvi a “marcha do remador modificada”, sendo
cantada dentro do ônibus metropolitano enquanto viajava para minha
cidade que é Capitão Leônidas Marques. Em meio há um tanto de
gente esmagada entre malas, suor, cansaço e pintinhos – sim,
pintinhos de galinha piando a estrada inteira, uma graça! –
reinava a impaciência daqueles que pagam mais barato e por isso
recebem um tratamento da mesma qualidade: de ruim a péssimo. Digo
isto por que senti e sinto na pele o que é viajar de pinga-pinga.
Mas o vuco-vuco já começa bem antes do coletivo encostar na
plataforma e o MMA começar. E lá vou eu de novo...
— R$
7,60. Portão B, plataforma 5, - me comunica o simpático vendedor de
passagens do Expresso Santa Tereza.
Eu
poderia ter ido com o ônibus da empresa Reunidas que custa R$ 23,00,
ou pagar R$ 19,00 e ir de Cattani Sul, que também passam pela minha
cidade, porém os preços são salgados para quem como eu, viaja
sempre, e isso me faz preferir pagar mais barato – mas às vezes
quando você escolhe pagar menos, você também paga o pato -. E lá
vou eu pra mais uma luta, digo luta por que sei que o horário das
14h30 é um dos piores. São 14 horas e poucas pessoas estão por
ali. Já fico na fila, pois sei exatamente como as coisas acontecem.
Mas tenho fé e confiança, hoje não vai lotado.
Pegadinha
do Malandro, me enganei. São 14h15 e a porta de vidro que separa a
parte interna da rodoviária da plataforma de embarque já está
lotada. Pessoas se empurram, ninguém respeita fila. Há mais ou
menos uns 40 passageiros a espera. O ônibus encosta e o motorista
grita “Capitão”. A porta enche de gente com seus papeizinhos
quadrados na mão
– Não
me empurra pô!
A
grande porteira de vidro separa a boiada faminta do pasto e quando
ela é aberta é cada um por si e Deus por cada um também. Ninguém
se importa com ninguém. Todos querem garantir um dos 40 assentos
disponíveis e nada confortáveis que este pinga-pinga oferece, mas é
melhor do que ir em pé, né? Além
dos sentados, são apenas 39
“vagas” para viajar em pé nesta condução. É o que diz o
cartaz, mas infelizmente nem sempre é assim. Corri e garanti o meu,
a muito custo. Junto da lotação que vai para Capitão encosta a de
Boa Vista da Aparecida que custa R$ 8,00, aliás é o único ônibus
que faz essa linha, esses não têm outra opção mesmo. “Deveriam
colocar mais ônibus para Boa Vista, principalmente nos horários que
as pessoas vão trabalhar e voltam para casa, os ônibus vão
lotados”, reclama a auxiliar de departamento pessoal, Patricia
Vinski Lingoski. Segundo o artigo 44 do regulamento do Transporte
Coletivo Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do Estado do
Paraná, “a lotação
admitida será a capacidade normal do veículo, mais 5 passageiros
por metro quadrado do espaço da área livre do veículo”. O
vendedor de passagens afirma que de Cascavel para Boa Vista são
disponíveis quatro horários pelo Expresso Santa Tereza: 06h30,
11h45, 14h30 e 18h30.
A
aglomeração de pessoas e a falta de segurança não são o único
problema, há quem reclame também dos maus tratos e desrespeito por
parte dos motoristas e cobradores. A Auxiliar Administrativo
Financeiro, Jéssica Alievi conta que no mês passado a sogra Iraci
dos Santos passou por um constrangimento dentro do Expresso Santa
Tereza. “Minha sogra de 51 anos foi humilhada e xingada pelo
cobrador no ônibus por que não tinha troco para R$ 20. Fomos atrás
do cara mas não conseguimos descobrir quem era”, enaltece Jéssica,
indignada. Dona Iraci dos Santos ia de Cerro Azul até Santa Lúcia.
Outra
reclamação é da qualidade dos ônibus e das condições em que
eles trafegam. “Além do ônibus bater muito, chove mais dentro do
que fora e o pior é que muitas vezes as pessoas carregam coisas com
cheiro ruim e a gente acaba passando mal na estrada”, conta Ana
Paula Perin. “Acho que eles poderiam arrumar os ônibus e manter um
controle do que entra na condução”, opina a advogada. “Pagamos
R$ 8,00 para Boa Vista, pela condição que viajamos está muito
caro”, argumenta Patrícia.
Outros
destinos
Outra
empresa que trabalha com ônibus metropolitanos é a Princesa dos
Campos, pioneira em transporte de passageiros e encomendas. A
estudante Amanda Vieira viaja de 15 em 15 dias com o metropolitano
Princesa dos Campos para Palotina, a 98,8 km de Cascavel, e conta que
nos finais de semana é ainda mais difícil utilizar a condução. “É
horrível, tem dias que até vai, mas nos finais de semana é
impossível. Enche demais, vai muita gente de pé”, relata a jovem.
Teve uma vez que eu fui e o motorista não queria sair por que não
conseguia enxergar o retrovisor, tinha gente até na escada”,
enfatiza a estudante que paga R$ 11,35 na passagem do metropolitano.
“Eu poderia ir de ônibus convencional, que é da mesma empresa,
mas além dos horários serem limitados, a passagem é R$ 14,56 mais
cara do que a do metropolitano.
Amanda
cita que os horários também são limitados, o que prejudica as
pessoas que trabalham até as 18 horas. “O último ônibus é
17h15, se eu quiser ir sentada preciso estar na rodoviária às 16h30
ou antes. Agora que eu vou começar a trabalhar isso virou um
problema, pois só sairei às 18 horas”, conta, preocupada. A
vendedora da agência de passagens informa que o ônibus convencional
da empresa Princesa dos Campos para Palotina disponibiliza apenas o
horário das 20h45 e o preço da passagem é de R$ 25,91.
PRF
não pode impedir que ônibus levem pessoas em pé
Há
pessoas emboladas ao lado do motorista. Aquilo que é normal ver em
lotações do transporte público urbano também acontece nos ônibus
metropolitanos que vão para as rodovias. O risco é grande, e a
irresponsabilidade também. A Polícia Rodoviária Federal, que tem
um posto situado no município de Lindoeste, a 43 km de Cascavel, tem
a obrigação de fiscalizar irregularidades nas rodovias, porém não
é responsável pela lotação do transporte metropolitano. “Quem
autoriza o limite máximo de passageiros em pé é o DER, então nós
trabalhamos em cima disso, quando o ônibus está acima desse limite
nós abordamos e fazemos a fiscalização, mas muitas vezes, o ônibus
está aparentemente lotado, porém ainda dentro do limite determinado
pelas leis do DER. Explica o chefe do núcleo de fiscalização da
PRF, Jair Luiz Finkler. “Nós ficamos de mãos atadas, por que não
podemos ir contra o que está na lei. A Polícia Rodoviária Federal
só faz a fiscalização do trânsito”, completa.
Nesses
ônibus não existe cinto ou qualquer outro objeto de segurança que
proteja os passageiros. O artigo 65 do Código de Trânsito do Brasil
– CONTRAN, cita que é obrigatório o uso de cinto de segurança em
todas as vias do território nacional, salvo em situações
regulamentadas pelo CONTRAN. Segundo o artigo 105, as exceções são
os veículos destinados ao transporte de passageiros em percursos em
que seja permitido viajar em pé”. Ou seja, segundo a lei as linhas
metropolitanas não precisam disponibilizar cintos de segurança para
seus passageiros. Ai é um tal de “Seguuuura motorista”, ou
“parece que tá carregando porco!”, essas são algumas frases que
nos fazem rir. Se não fosse dramático, seria cômico.
Conforme
dados do DER/PR, em 2011 – data do último levantamento divulgado –
a empresa Expresso Santa Tereza realizou 4.500 viagens pela linha
Cascavel x Capitão Leônidas Marques, ofereceu 180 mil lugares,
porém transportou mais de 226 mil pessoas, em um período de 12
meses. Sua receita foi de R$ 789.460,00. Para Boa Vista da Aparecida,
realizou 2.920 viagens, disponibilizou 116.800 lugares e transportou
139.568 passageiros. Fechou a receita em R$ 553.365,95.
Segundo
o Artigo 24 do regulamento, na composição tarifária (que é o que
será levado em conta para decidir o preço da passagem), são
considerados os custos operacionais, de manutenção, administração,
remuneração de capital, de depreciação, inclusive o equipamento
de reserva se for exigido, o coeficiente de utilização, bem como
outros componentes previstos em lei, decretos, normas.
Eu
continuo aqui, sentada com o sol na cara. São 14h15 e – piu – o
ônibus só sai 14h30 então o que me resta é – piu – esperar,
abrir bem as janelas e me espremer, assim como todos – piu –
estão fazendo. Coloco o fone de ouvido e ouço Ultraje a Rigor
“Quando eu tiver dinheiro, quando eu tiver dinheiro, eu prometo a
mim mesmo que eu só vou andar de táxi, o que é que eu tô fazendo
aqui”. E assim sigo viagem – piu –, aos trancos e barrancos,
apertos, cheiros, – piu –, pulos, barulhos, conversas e piados.
- Para ter acesso ao Regulamento do Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do Estado do Paraná, basta acessar o site do DER/PR pelo link: http://www.der.pr.gov.br/arquivos/File/regulamentotip.pdf.
- Para ir de Cascavel a Capitão Leônidas Marques de metroplitano, paga-se R$ 7,60, enquanto de ônibus convencional o valor chega a R$ 23. Três vezes mais
- Para Palotina, o metropolitano custa R$ 11,35 e o ônibus convencional R$25,91, mais que o dobro do valor
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