NO AR: OS OPERÁRIOS DA PALAVRA

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Paga-se pouco, mas paga-se o pato - Maximiliane Veiga


Viajar nem sempre é algo prazeroso, principalmente quando se trata de ônibus metropolitanos. Desembolsar ou passar sufoco? Eis a questão




 Projeto Outra Pauta - Jornal Gazeta do Paraná





“Se o busão não tombar olê olê olá, eu chego lá”... Acredite se quiser, mas eu já ouvi a “marcha do remador modificada”, sendo cantada dentro do ônibus metropolitano enquanto viajava para minha cidade que é Capitão Leônidas Marques. Em meio há um tanto de gente esmagada entre malas, suor, cansaço e pintinhos – sim, pintinhos de galinha piando a estrada inteira, uma graça! – reinava a impaciência daqueles que pagam mais barato e por isso recebem um tratamento da mesma qualidade: de ruim a péssimo. Digo isto por que senti e sinto na pele o que é viajar de pinga-pinga. Mas o vuco-vuco já começa bem antes do coletivo encostar na plataforma e o MMA começar. E lá vou eu de novo...



— R$ 7,60. Portão B, plataforma 5, - me comunica o simpático vendedor de passagens do Expresso Santa Tereza.

Eu poderia ter ido com o ônibus da empresa Reunidas que custa R$ 23,00, ou pagar R$ 19,00 e ir de Cattani Sul, que também passam pela minha cidade, porém os preços são salgados para quem como eu, viaja sempre, e isso me faz preferir pagar mais barato – mas às vezes quando você escolhe pagar menos, você também paga o pato -. E lá vou eu pra mais uma luta, digo luta por que sei que o horário das 14h30 é um dos piores. São 14 horas e poucas pessoas estão por ali. Já fico na fila, pois sei exatamente como as coisas acontecem. Mas tenho fé e confiança, hoje não vai lotado.

Pegadinha do Malandro, me enganei. São 14h15 e a porta de vidro que separa a parte interna da rodoviária da plataforma de embarque já está lotada. Pessoas se empurram, ninguém respeita fila. Há mais ou menos uns 40 passageiros a espera. O ônibus encosta e o motorista grita “Capitão”. A porta enche de gente com seus papeizinhos quadrados na mão

– Não me empurra pô!



A grande porteira de vidro separa a boiada faminta do pasto e quando ela é aberta é cada um por si e Deus por cada um também. Ninguém se importa com ninguém. Todos querem garantir um dos 40 assentos disponíveis e nada confortáveis que este pinga-pinga oferece, mas é melhor do que ir em pé, né? Além dos sentados, são apenas 39 “vagas” para viajar em pé nesta condução. É o que diz o cartaz, mas infelizmente nem sempre é assim. Corri e garanti o meu, a muito custo. Junto da lotação que vai para Capitão encosta a de Boa Vista da Aparecida que custa R$ 8,00, aliás é o único ônibus que faz essa linha, esses não têm outra opção mesmo. “Deveriam colocar mais ônibus para Boa Vista, principalmente nos horários que as pessoas vão trabalhar e voltam para casa, os ônibus vão lotados”, reclama a auxiliar de departamento pessoal, Patricia Vinski Lingoski. Segundo o artigo 44 do regulamento do Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do Estado do Paraná, “a lotação admitida será a capacidade normal do veículo, mais 5 passageiros por metro quadrado do espaço da área livre do veículo”. O vendedor de passagens afirma que de Cascavel para Boa Vista são disponíveis quatro horários pelo Expresso Santa Tereza: 06h30, 11h45, 14h30 e 18h30.



A aglomeração de pessoas e a falta de segurança não são o único problema, há quem reclame também dos maus tratos e desrespeito por parte dos motoristas e cobradores. A Auxiliar Administrativo Financeiro, Jéssica Alievi conta que no mês passado a sogra Iraci dos Santos passou por um constrangimento dentro do Expresso Santa Tereza. “Minha sogra de 51 anos foi humilhada e xingada pelo cobrador no ônibus por que não tinha troco para R$ 20. Fomos atrás do cara mas não conseguimos descobrir quem era”, enaltece Jéssica, indignada. Dona Iraci dos Santos ia de Cerro Azul até Santa Lúcia.



Outra reclamação é da qualidade dos ônibus e das condições em que eles trafegam. “Além do ônibus bater muito, chove mais dentro do que fora e o pior é que muitas vezes as pessoas carregam coisas com cheiro ruim e a gente acaba passando mal na estrada”, conta Ana Paula Perin. “Acho que eles poderiam arrumar os ônibus e manter um controle do que entra na condução”, opina a advogada. “Pagamos R$ 8,00 para Boa Vista, pela condição que viajamos está muito caro”, argumenta Patrícia.



Outros destinos



Outra empresa que trabalha com ônibus metropolitanos é a Princesa dos Campos, pioneira em transporte de passageiros e encomendas. A estudante Amanda Vieira viaja de 15 em 15 dias com o metropolitano Princesa dos Campos para Palotina, a 98,8 km de Cascavel, e conta que nos finais de semana é ainda mais difícil utilizar a condução. “É horrível, tem dias que até vai, mas nos finais de semana é impossível. Enche demais, vai muita gente de pé”, relata a jovem. Teve uma vez que eu fui e o motorista não queria sair por que não conseguia enxergar o retrovisor, tinha gente até na escada”, enfatiza a estudante que paga R$ 11,35 na passagem do metropolitano. “Eu poderia ir de ônibus convencional, que é da mesma empresa, mas além dos horários serem limitados, a passagem é R$ 14,56 mais cara do que a do metropolitano.



Amanda cita que os horários também são limitados, o que prejudica as pessoas que trabalham até as 18 horas. “O último ônibus é 17h15, se eu quiser ir sentada preciso estar na rodoviária às 16h30 ou antes. Agora que eu vou começar a trabalhar isso virou um problema, pois só sairei às 18 horas”, conta, preocupada. A vendedora da agência de passagens informa que o ônibus convencional da empresa Princesa dos Campos para Palotina disponibiliza apenas o horário das 20h45 e o preço da passagem é de R$ 25,91.



PRF não pode impedir que ônibus levem pessoas em pé



Há pessoas emboladas ao lado do motorista. Aquilo que é normal ver em lotações do transporte público urbano também acontece nos ônibus metropolitanos que vão para as rodovias. O risco é grande, e a irresponsabilidade também. A Polícia Rodoviária Federal, que tem um posto situado no município de Lindoeste, a 43 km de Cascavel, tem a obrigação de fiscalizar irregularidades nas rodovias, porém não é responsável pela lotação do transporte metropolitano. “Quem autoriza o limite máximo de passageiros em pé é o DER, então nós trabalhamos em cima disso, quando o ônibus está acima desse limite nós abordamos e fazemos a fiscalização, mas muitas vezes, o ônibus está aparentemente lotado, porém ainda dentro do limite determinado pelas leis do DER. Explica o chefe do núcleo de fiscalização da PRF, Jair Luiz Finkler. “Nós ficamos de mãos atadas, por que não podemos ir contra o que está na lei. A Polícia Rodoviária Federal só faz a fiscalização do trânsito”, completa.



Nesses ônibus não existe cinto ou qualquer outro objeto de segurança que proteja os passageiros. O artigo 65 do Código de Trânsito do Brasil – CONTRAN, cita que é obrigatório o uso de cinto de segurança em todas as vias do território nacional, salvo em situações regulamentadas pelo CONTRAN. Segundo o artigo 105, as exceções são os veículos destinados ao transporte de passageiros em percursos em que seja permitido viajar em pé”. Ou seja, segundo a lei as linhas metropolitanas não precisam disponibilizar cintos de segurança para seus passageiros. Ai é um tal de “Seguuuura motorista”, ou “parece que tá carregando porco!”, essas são algumas frases que nos fazem rir. Se não fosse dramático, seria cômico.



Conforme dados do DER/PR, em 2011 – data do último levantamento divulgado – a empresa Expresso Santa Tereza realizou 4.500 viagens pela linha Cascavel x Capitão Leônidas Marques, ofereceu 180 mil lugares, porém transportou mais de 226 mil pessoas, em um período de 12 meses. Sua receita foi de R$ 789.460,00. Para Boa Vista da Aparecida, realizou 2.920 viagens, disponibilizou 116.800 lugares e transportou 139.568 passageiros. Fechou a receita em R$ 553.365,95.

Segundo o Artigo 24 do regulamento, na composição tarifária (que é o que será levado em conta para decidir o preço da passagem), são considerados os custos operacionais, de manutenção, administração, remuneração de capital, de depreciação, inclusive o equipamento de reserva se for exigido, o coeficiente de utilização, bem como outros componentes previstos em lei, decretos, normas.



Eu continuo aqui, sentada com o sol na cara. São 14h15 e – piu – o ônibus só sai 14h30 então o que me resta é – piu – esperar, abrir bem as janelas e me espremer, assim como todos – piu – estão fazendo. Coloco o fone de ouvido e ouço Ultraje a Rigor “Quando eu tiver dinheiro, quando eu tiver dinheiro, eu prometo a mim mesmo que eu só vou andar de táxi, o que é que eu tô fazendo aqui”. E assim sigo viagem – piu –, aos trancos e barrancos, apertos, cheiros, – piu –, pulos, barulhos, conversas e piados.





  • Para ter acesso ao Regulamento do Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do Estado do Paraná, basta acessar o site do DER/PR pelo link: http://www.der.pr.gov.br/arquivos/File/regulamentotip.pdf.


  • Para ir de Cascavel a Capitão Leônidas Marques de metroplitano, paga-se R$ 7,60, enquanto de ônibus convencional o valor chega a R$ 23. Três vezes mais


  • Para Palotina, o metropolitano custa R$ 11,35 e o ônibus convencional R$25,91, mais que o dobro do valor

Texto de Maximiliane Veiga



Nenhum comentário:

Postar um comentário